Fernanda Carvalho
Antes de discutir inclusão ou exclusão digital é necessário compreender o que esses termos querem dizer realmente. Toda inclusão existe porque existe a exclusão e vice-versa, a exclusão social existe a partir do momento que é criada a inclusão à determinada garantia de direito, ou acesso à serviço público, como o tratamento em saúde ou ensino fundamental.

Seguindo esse raciocínio, toda inclusão é um processo de exclusão, a partir do momento em que são incluídos alguns, outros automaticamente são excluídos. É claro que em alguns casos, como no tratamento de saúde, a exclusão não é opcional, já em casos como no acesso à religião é feita uma escolha pela exclusão.

Indo para o digital

O que é a inclusão/exclusão digital? É a primeira pergunta óbvia. O termo digital faz relação ao acesso à internet e a computadores, quase que significando a mesma coisa nesse caso, já que o acesso à rede é feito primordialmente por computadores. O governo brasileiro teve, porém deixou para trás, um grande programa de inclusão digital, que resultou na produção do Livro Verde, nele a realidade brasileira é avaliada e as possibilidades para o futuro são estudadas.

O atual governo também produziu um trabalho de inclusão digital, que diz:

A Inclusão digital deve ser tratada como um elemento constituinte da política de governo eletrônico, para que esta possa configurar-se como política universal. Esta visão funda-se no entendimento da inclusão digital como direito de cidadania e, portanto, objeto de políticas públicas para sua promoção.

Entretanto, a articulação à política de governo eletrônico não pode levar a uma visão instrumental da inclusão digital. Esta deve ser vista como estratégia para construção e afirmação de novos direitos e consolidação de outros pela facilitação de acesso a eles. Não se trata, portanto, de contar com iniciativas de inclusão digital somente como recurso para ampliar a base de usuários (e, portanto, justificar os investimentos em governo eletrônico), nem reduzida a elemento de aumento da empregabilidade de indivíduos ou de formação de consumidores para novos tipos ou canais de distribuição de bens e serviços.

Além disso, enquanto a inclusão digital concentra-se apenas em indivíduos, ela cria benefícios individuais, mas não transforma as práticas políticas. Não é possível falar destas sem que se fale também da utilização da tecnologia da informação pelas organizações da sociedade civil em suas interações com os governos, o que evidencia o papel relevante da transformação dessas mesmas organizações pelo uso de recursos tecnológicos.

Nas presentes condições do Brasil, não faz sentido focalizar a política inclusão digital em promoção do acesso individual à Internet. Assim, a criação de uma infra-estrutura pública para extensão do acesso à Internet aos setores impedidos de ter acesso individual deve ser o centro da estratégia do governo federal.

No Livro Verde temos: “para que se tenha universalização de fato, há de se procurar soluções para inclusão das populações com baixo poder aquisitivo nas redes digitais. A universalização de serviços da Internet inclui, ainda, atividades de promoção de novas soluções de acesso à Internet”, relembra.

Monteiro:

Embora o número de usuários da Rede seja grande e tenha se expandido consideravelmente em poucos anos, como vimos anteriormente, ele é ainda muito pequeno se comparado ao total de habitantes do planeta. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU de 1999, menos de 7% da população mundial está conectada à internet, sendo que a maior parte desta parcela (90%) reside nos Estados Unidos e em outros países industrializados. No Brasil, somente 8,93% da população tem acesso à Rede.

Como agravante, não devemos esquecer que utilizar a internet exige diversas
capacidades (como compreensão de textos complexos, comunicação por escrito, operação de computadores e softwares, entre outras), que exigem um grau de instrução relativamente elevado. A esse conjunto de capacidades dá-se o nome de “alfabetização informacional”: “para o cidadão da sociedade informacional, já não basta saber ler e escrever, ou ter aprendido algum ofício. É preciso ter acesso à informação, saber buscá-la e encontrá-la, dominar seu uso, organizá-la e entender suas formas de organização, e, sobretudo, utilizá-la apropriada, adequada e eficazmente” (SPITZ, 1999). Isso significa que simplesmente ter acesso à Rede não garante a sua real utilização, fator que limita ainda mais a sua abrangência.

Essa situação recebe o nome de “digital divide” (a fenda que separa os que estão conectados dos que não estão) e têm preocupado políticos e pesquisadores em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde o fenômeno é conhecido como “exclusão digital”. Em uma tentativa de solução, alguns governos estão elaborando projetos no sentido de aumentar a penetração da internet entre a população, oferecendo terminais públicos de acesso à Rede, como na Itália, ou disponibilizando computadores nas escolas públicas. Certamente, isso expandirá de alguma forma o acesso à internet no futuro, que deixará de ser um privilégio restrito às elites. No entanto, a democratização real da informação passa por questões mais profundas, envolvendo necessidades básicas, como educação de qualidade, por exemplo.

José Anderson Sandes entrevistou o sociólogo Bernardo Sorj, que afirmou: “Para o bem ou para o mal, temos uma nova ordem através de novos meios tecnológicos, como por exemplo, o celular. Antes, o telefone era um bem para poucos. Hoje a telefonia cobre, segundo Sorj, praticamente todo o País. E a Internet é um desses bens. O importante é incluir mais gente no processo. Mas, num país periférico como o Brasil, o computador ainda está distante de fechar o ciclo de consumo.
Cerca de 20 milhões de pessoas no Brasil possuem banda larga. Hoje os mais pobres começam a ter acesso a Internet. Ou através de escolas, ou através dos cyber-cafés. Por isso, o professor Bernardo Sorj acha que tem mais gente na rede do que os números frios que as estatísticas apontam. Mas é de opinião que Brasil tem que superar um grande problema: o da educação. Aí está o gargalo de todo o processo. A desigualdade se reproduz atualmente através da Internet”.
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2 Responses
  1. O relato sobre inclusão / Exclusão, foi apresentado em uma disciplina referente a tecnologia.
    Apresentado por grandes amigos, apresentou questionamentos sobre o Tabuleiro Digital.
    Foi bem legal!


  2. Trabalhar a inclusão/ exclusão é fundamental na formação de um educador.